12 de outubro de 2014

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, MAIS ALGUMAS DICAS

Nessa leva de indicação de livros três falam diretamente das cultura e história afro-brasileira e os outros três são histórias cotidianas que trazem como protagonistas personagens negros. Essas propostas de leituras nos leva a refletir que também aplicamos a lei 10.639 quando trazemos livros com personagens negros, mesmo que esses não falem da temática diretamente. Definitivamente estamos ocupando espaços, porque não existe espaço vazio e os nos locais que não estivermos será ocupado por quem está de forma hegemônica. Os livros de princesas europeias não dizem, diretamente, que ser belo é ser somente como elas, mas apresentam a beleza somente daquela forma. Então temos que ter uma overdose de livros que falem do negro de todas as formas, mostrando a sua presença na sociedade brasileira.

Título: O Príncipe da Beira
Texto e Ilustração: Josias Marinho
Editora: Mazza Edições

O livro de ilustrações simples e claras, mas não menos belas, é quase que uma autobiografia. O pequeno menino que vive na beira do rio Guaporé, que adora subir em pé... pé de laranja, de abacate e no que mais der fruta gostosa e for possível subir me remete ao próprio escritor. Porém, caso não seja a sua história, com certeza é a das lembranças de sua infância, pois ele nasceu em uma cidade que fica na margem desse rio lindo, tão inspirador que saiu o poético e ingênuo livro do menino que é príncipe da sua vida e que brinca com o mundo ao seu redor. O livro se torna interessante, não só pela sensibilidade de trazer a poesia do dia a dia, mas por trazer como personagem principal desse enredo cotidianamente gostoso um menino negro, lindo e feliz. Pois assim que o negro deve ser retratado na literatura infanto-juvenil – lindo e feliz – para que as crianças negras sintam orgulho de sua imagem, para que as crianças negras se sintam representadas.

Título: Josephine na Era do Jazz
Autor: Jonah Winter
Ilustradora: Majorie Priceman
Editora: Martins Fontes

Sim, é isso mesmo que você está pensando, o livro fala de Josephine Baker. Você deve estar transbordando de felicidade, assim como fiquei quando uma amiga me contou do livro e não me coube quando encontrei para comprar. É excelente ter a biografia dessa forte mulher posta em um livro infanto-juvenil. É maravilhosos começar contando para os pequenos que essa diva da Broadway discursou na mesma cerimônia que Martin Luther King reanimou sonhos nos negros estadunidenses.
Mas voltemos ao livro. Ele é dançante, e não podia ser diferente. As palavras que algumas vezes se repetem, a disposição das ilustrações que envolvem a história fazendo com que tudo pareça ter som e movimento ao contar a história de Josephine, a mais bem paga showgril da época. Parece que o livro foi coreografado ao mostrar a força, determinação e, principalmente, autenticidade dessa belíssima mulher negra, militante e bem sucedida em uma época em que, para as mulheres, não era fácil ser nenhuma dessas três coisas.

Título: Meninas Negras
Autor: Madu Costa
Ilustrador: Rubem Filho
Editora: Mazza Edições

Esse livro é pequeno, mas vale adquiri-lo. Primeiramente porque tem como protagonistas três belas meninas negras. Segundo que ele propõe um resgate na ancestralidade delas. Terceiro e último ponto a favor do livro é que ele mostra isso tudo feito por uma professora. Esse último é um motivo interessante porque mostra, na sutileza das palavras, como uma professora que positiva a memória e história dos povos africanos faz com que as crianças se enxerguem e percebam que os saberes e sabores que vieram de lá e que aqui ficaram são seus.

Título: Ombela a Origem das Chuvas
Autor: Ondjaki
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Pallas Mini

Sou suspeita quando se fala de Ondjaki, todos livros dele que chegaram as minhas mãos devorei em um segundo. Esse acabou de sair do forno e conta um mito, o surgimento das chuvas partindo da história da deusa Ombela.
Ombela em umbundu é chuva. O livro fala que a história dela é contada pelos mais velhos. Coloca, a visão eurocêntrica maniqueísta por água abaixo literalmente, pois o livro fala do aprender a chover. Fala da relação familiar de troca de aprendizados. Mostra a relação do homem com a natureza e vice e versa.UFA!!!! Quantos elementos da cultura africana em um só livro!!! Bem, todos os livros que li dele são assim, um retrato das culturas desse diversificado continente. Ondjanka nos leva a uma viagem sem que percebamos, nos faz sentir parte da história e com a certeza de que conhecemos um pouco mais de nossas ancestralidade. E não posso deixar de comentar que a ilustrações de Rachel só nós deixa mais aconchegada com nossa ancestralidade, é como se os pingos salgados das lágrimas de Ombela caísse em nossos lábios.

Título: O Mundo no Black Power de Tayó
Autora: Kiusam de Oliveira
Ilustradora: Taísa Borges
Editora: Peirópolis

Arrisco-me a dizer, sem ser indelicada com todos os outros escritores sobre o tema, que esse é o melhor livro que aborda o cabelo crespo. É lindo, levanta a autoestima de qualquer um ao perceber a força do Black Power de uma menina tão pequena, que se espelha e encontra apoio na sua mãe. É interessante porque mostra a relação de uma mãe que reafirma toda a história e memória de seu povo nos belos cabelos de Tayó.
O livro é belo da primeira a última página, a cada descrição feita a alegre menina. É engrandecedor ver as palavra que exalta a cultura negra destacada a cada página e melhor ainda é ver os coloridos que dão o tom contagiante da bela Tayó. No fim, dá vontade de pedir para nossas mães trançarem nossos cabelos.
Outro ponto de positivíssimo é que quando você acha que acabou e vira a página encontra um glossário das palavras significativas do livro e uma breve explicação da força do movimento Black Power, o que só engrandece o livro.

Título: O Menino, o Jabuti e o Menino.
Autoria e Ilustração: Marcelo Pacheco.
Editora: Panda Books

O livro que de forma sensível trata a questão importantes como morte, vida e amizade. Livro lindo, sem texto mas com imagens que a cada página falam mais do que mil palavras. Seria triste se não fosse a ternura como trata a morte e a força que coloca nos encontros que a vida nos proporciona. Personagem principal é o jabuti, mas os meninos são essenciais para o andamento da história. O melhor de tudo, personagens negros em histórias sensíveis. É isso que precisamos para ocupar espaços nas prateleiras, nos corações e na memórias das crianças.


4 de outubro de 2014

BRUNA E A GALINHA D'ANGOLA

Nome: Bruna e a Galinha d'Angola

Autor: Gercilga de Almeida
Ilustração: Valéria Saraiva
Editora: Pallas


Para realizar esse projeto que foi muito prazeroso usamos o livro “Bruna e a Galinha de Angola” de Gercilga de Almeida, mas antes de trazer a literatura tivemos que preparar os pequenos. O ponto de partida para iniciar a semana foi a história de cada criança, onde refletimos que mesmo tão pequenos eles já têm história que vem antes deles nascerem, que a família deles carregam, assim apresentamos aos alunos o conceito de ancestralidade e o valor das artes e da oralidade, no caso usamos a fotografia para narrativa de suas histórias. Construímos uma linha do tempo com imagens dos alunos na barriga da mãe, bebês e nos dias de hoje, com quatro anos. Apresentamos como é quando uma criança está no ventre materno usando filme do desenvolvimento do feto e mostrando ultrassonografias, reproduzimos com uma boneca o ventre materno, com cordão umbilical em um saco transparente cheio d'água e para findar o primeiro momento assistimos o desenho “Kiriku e a Feiticeira”, que nos fez refletir sobre nosso papel como sujeito social e como fazemos parte desse universo antes mesmo de nascer.  
  
   

 

Com os conceitos que são necessários para compreender a história e seu contexto apresentados fizemos a contação da história proposta e nesse momento as crianças ficaram envolvidíssimas, pois além do livro outro recurso utilizado foi os “panôs” que é uma das abordagens do livro e têm o intuito de resgatar as histórias através da arte de pintar tecido. As páginas do livro foram todas reproduzidas em tecidos grandes para que os alunos pudessem se envolver integralmente com a literatura e perceber essa forma de contar a história, de trazer à tona suas ancestralidade., reafirmando-lhes a importância da oralidade nas culturas africanas. Após a contação de história foi possível recriar um espaço de compartilhamento do que foi ouvido, pois as crianças contaram e recontaram o que as imagens falavam, baseado no que escutaram. Enquanto o grupo manuseava os panôs da história os alunos foram convidados, individualmente, a construírem seus próprios panôs, pintando em tecido com uma variedade de cores e pinceis. Foi apresentado algumas imagens de panôs africanos e assim cada aluno pode explorar a sua liberdade criativa se inspirado nas imagens, onde resultou belas pinturas.

   

 
 

No terceiro dia os alunos foram convidados para relembrar o que foi apresentado nos dias anteriores focando na galinha, onde apresentamos a lenda da Galinha d'Angola, a música do Vinícius de Moraes de mesmo nome e produzimos um fantoche de vara com as mãos dos alunos para brincarmos de teatro. Pintamos as mãos de preto que foi usada como carimbo em um papel cartão. Em seguida as crianças fizeram pintas na galinha com o dedo. Essa atividade foi de grande produtividade, pois enquanto alguns cantavam a música outros encenavam as histórias ouvidas, “Bruna e a Galinha d'Angola” e “A lenda da galinha d'Angola”. O palco ficou livre para que os alunos apresentassem o que lhes despertassem desejo de apresentarem dentro da temática.


 

Também apresentamos aos alunos o vídeo do livro trabalhado que foi produzido pela Cor da Cultura no projeto Livro Animado. Assim houve uma interação de outro recurso para interação com a história e os alunos tiveram a oportunidade de relembrar o livro lido no início da semana. Em seguida apresentamos um mapa gigante da África para que os alunos pudessem localizar Angola e visualizar a cartografia do continente. Outra atividade que realizamos nesse momento foi relembrar que o tio de Bruna era oleiro e que a mesma aprendeu a fazer galinhas de barro. Foi apresentado uma galinha de barro produzida por uma educadora da turma e trouxemos os alunos para experiência de manusear o barro e construir a sua própria escultura.

    
 

Para findar o projeto inspirado no livro fizemos a montagem de nossa exposição, pois todos os trabalhos ficaram expostos na entrada do colégio para que a lei 10.639/03 fosse para além dos muros da escola e que qualquer pessoas que pela escola adentrasse pudesse se sensibilizassem com tão rica cultura, além de dar oportunidade aos alunos reviverem o que foi produzido durante a semana contando e recontando a exposição para seus responsáveis. Nesse dia foi apresentado aos alunos a música da artista Angelique Kidjo e retornamos ao mapa para ver em que local fica Benin cidade onde a cantora nasceu e para finalizar a semana as crianças foram convidadas a dançarem com tecidos, no ritmo e essência da música.

 

As crianças que estou trabalhando nesse ano tiveram o primeiro contato, dentro do espaço escolar, com as culturas e histórias da África o que torna positivo devido a forma que eles estão mergulhando nesse contato. Simplesmente porque os alunos começam a se identificar com vários elementos a medida que vamos apresentando novas artes e contando histórias, contribuindo para um aproximar-se das culturas afrodescendetes de forma fascinante.

    



26 de julho de 2014

A BELEZA DO BLACK POWER


Antes de falar do trabalho que foi feito em sala de aula de Educação Infantil (Maternal II) na prefeitura do Rio de Janeiro (Creche Municipal Casa Branca Professor Paulo Freire) tenho que dizer uma coisa que não me canso: o livro “O Mundo no Black Power de Tayó” é um dos mais belos e politizado livro que já li sobre a temática cabelos crespos. Traz de forma positivada os cabelos de uma menininha que é linda e, o que é melhor, acha-se bonita.

A ideia de trabalhar com o livro foi mesmo para romper preconceitos, tanto de alguns educadores como de pais e dos alunos. Tinha um menino, na turma que estou lecionando, que sempre comparava os cabelos das alunas com cabelo de bruxa. Logicamente que o cabelos são crespos.

Como a história é sobre o Black Power, resolvi trazer o livro para sala de aula e foi muito bem vindo. Comecei a semana contando a história e explorando as imagens que são bem coloridas. As crianças ficaram bem atentas, quando fomos fazer a discussão expliquei o que era o Black Power de forma simples porém real, são crianças que têm quase 4 anos. A medida que o debate fluía na rodinha fui mostrando fotos de personalidades e pessoas comuns que usavam Black Power e a reação foi ótima. Ouvi as crianças falarem da beleza das pessoas mostradas ou o nome das que identificavam, inclusive o jogadores da seleção brasileira. As diferentes imagens foram manuseadas pelo grupo com muita atenção.

  

Em seguida foi dito para eles que essa forma especial de pentear os cabelos e outras como as tranças os tererês, os dreads e os turbantes foram trazidas pelos negros. Lembrei que os negros vieram para o Brasil da África e que não vieram porque quiseram, vieram a força para serem escravizados. Lógico que deixei claro que isso não impediu que eles trouxessem na bagagem do coração suas culturas. Então apresentei um atlas gigante onde eles puderam visualizar o continente africano, o país Brasil e o caminho que os africanos percorreram até chegarem aqui. Também, no debate falamos que eles vieram de barco porque naquela época não existia avião. Trabalhando, de forma interdisciplinar, meios de transporte.

  

Após o manuseio e as curiosidades observadas no mapa, fomos construir o nosso mapa. Para isso apresentei as cores da África (preto, vermelho, amarelo e verde). Trabalhamos o nome das cores e quais eram semelhante com a cores do Brasil (verde, amarelo, azul e branco), assim trouxemos um pouco da matemática para sala de aula. Então partimos para a ação, pintamos os nosso mapa gigante da África e do Brasil e o oceano Atlântico. Lógico que estamos falando de Educação Infantil e nesse momento tudo é sensação, então convidei os alunos para pintarem o oceano com os pés e sentirem a sensação do gelado da tinta, a dificuldade e diferença de pintar com os esse órgão e não com as mãos. É lógico que o papel pardo rasgou, mas o objetivo foi atingindo: vivenciar diferentes sensações. Terminando nossa maratona de pinturas e montando nosso mapa gigante, fomos até nossa produção apreciar e colar barcos fazendo o caminho da África para o Brasil, para tal atividade entreguei barcos feitos de origami e numerados de 1 até 9, assim pude inserir mais um pouco de matemática para que as crianças pudessem identificar os números. A medida que levantava a placa do número os alunos diziam o nome e vinham colar no mapa.


Outro cartaz que fizemos com os pequenos foi com recorte e colagem de revista. Pedi que os alunos que procurassem imagens de pessoas negras nas revistas. Muito interessante foi os alunos tão pequenos perceberem a dificuldade de encontrar imagens de negros na revista. “-Tia, nessa revista não tem gente negra.” era frase comum na boca das crianças. Enquanto iam para a missão quase impossível – encontrar imagens de negros nas revistas – eu chamava outro grupo para fazer a estamparia na blusa. A auxiliar da turma que leciono, muito talentosa por sinal, fez o molde do desenho que propus e então colocamos as crianças para pintar a blusa com tinta de tecido e pincel batedor. Resultados: no final da semana todos saíram lindos, cada um com o seu Black Power produzidíssimo, com uma linda faixa colorida e a blusa produzida por eles próprios. Um sucesso de auto-estima, um monte de crianças felizes e educadoras com sorriso no rosto vendo seus objetivos atingidos. E, aquele menino que chamava de bruxas as meninas com cabelos crespos, só tecia elogios: "-Tia, como ela está linda! E ela também!". Missão cumprida.

 


Dicas a parte do planejamento que executei juntamente com a equipe que faço parte (as AEIs), são utilizar as palavras grifadas no livro para fazer um banco de palavras com os maiores. Vamos alfabetizar não é?! Temos um glossário atrás, o que nos dá possibilidades mil de produzir trabalho de história contextualizando o movimento Black Power. Para a galera do corpo e movimento, vamos remeter a circularidade do cabelo a circularidade das danças como jongo, ciranda e próprio samba de roda. E porque não, ao professor de ciências, debater os produtos de beleza para cabelos crespos e suas composições. E vamos para onde nossa criatividade docente nos levar, o importante é trabalhar literaturas onde todas as pessoas se sintam representadas.

  

 

  

27 de junho de 2014

SUÍTE COM PIZZA

Filme: Colegas
Direção: Marcelo Galvão
País: Brasil
Ano: 2012
Site Oficial:  www.colegasofilme.com.br
Classificação: 10 anos
Duração: 103 min.


Uma suíte com direito a pizza, assim defino o filme “Colegas”. A combinação perfeita, que nunca ousei experimentar, mas que já está na minha lista de prioridade!!!!
O filme perpassa da comédia ao drama com uma sutileza que você nem percebe se está rindo ou se está chorando. Um filme de excelente roteiro com diálogos inteligentíssimo, atores e atrizes que dão um banho de interpretação, fotografia deliciosa e figurino que te desperta a sensação de estar realmente no final da década de setenta e início de oitenta, época em que o filme foi ambientado. E você acredita que parou por aí? Não! Quando você acredita que não precisava de mais nada chega a pizza: a trilha sonora que pertence nada mais nada menos ao sempre vivo Raul Seixas, que de tão vivo aparece fazendo um show no filme.
Marcelo Galvão, o diretor do longa, traz de forma ritmada a história de três jovens com Síndrome de Down que moram em um instituto, pois lá foram deixadas pelas famílias. Os três são conhecedores do cinema porque trabalham na videoteca da instituição e, após assistirem alguns filmes inspiradores, dessas três mentes surge a brilhante ideia de cada um realizar um grande sonho que tenha. Na busca da realização do sonho deles a história se desdobra de forma singela e docemente embalado pela voz de Lima Duarte, que narra o filme todo. Com o filme só tive a certeza de que as pequenas coisas podem me tirar mais sorrisos e, no final, recordei-me de mais uma música do Raul Seixas “Prelúdio”.


23 de junho de 2014

COMO ESTRELAS

Paremos um minuto. Esqueçamos por alguns segundos que tempo é dinheiro, que tempo não pode ser desperdiçado. Pense o quanto essa sociedade do tempo e capitalista cobra da gente, sociedade inventada pelo bicho homem, em que a criatura adoece o criador. Onde a invenção ao invés de colaborar para que vivamos melhor, nós destrói e nos consome. Pois bem, parou e pensou? Agora você está livre para assistir o filme que proponho: “Como Estrela na Terra”.

O filme conta a história de um menino de 9 anos que corre o risco de ser reprovado pela segunda vez, pois não consegue aprender a ler. O agravante é que o garoto pertence a uma família indiana que tem condições financeiras razoáveis, o que exige que ele se sobressaia nos estudos como seu irmão mais velho. Ou seja, jamais seria compreendido pela família o caso dele achar que as letras dancem ao invés de ficarem estáticas para serem lidas, não se sensibilizariam para investigar o porquê de tantas dificuldades, mesmo ele sendo brilhante nas artes. Pois é, o menino pinta e desenha como ninguém. Entretanto as exigências acadêmicas e de adaptação a louca sociedade que não nos dá tempo de ter tempo, faz com que seus talentos se percam e ele fique mais marginalizado na escola, até o menino encontrar um professor que o compreenda e busque alternativas para que ele aprenda, além de identificar o que a criança possui: dislexia. O professor, com toda percepção do mundo, potencializa a criança até quando lhe apresenta seu problema, apresentando-lhe as personalidades geniais que tinham dislexia, que vai de Einstein a Da Vinci. 

Sim a trama é linda, a fotografia do filme é maravilhosa, o roteiro é bom e a história faz chorar, mas o que proponho, principalmente para educadores, pais e mães, é repensar as formas de aprender e de como e onde aprendemos. As pessoas não são iguais, porque as formas de aprender têm que ser? Diferentes pessoas têm diferentes habilidades que serão mais aguçadas de acordo com diversos fatores. Compreendendo isso fica fácil perceber o quanto o sistema educacional é estático e não proporciona espaços de aprendizados e sim de massificação do saber científico. As escolas que ignoram que os saberes científicos, antes de assim serem denominados, já foram saberes populares e que não são estáticos, transformam-se a todo momento.

Bem, vale ver o filme, mas vale também olharmos para nossas práticas. É importante percebermos as diferentes formas de aprender e, principalmente, o quanto a arte contribui para que alcancemos as pessoas. As artes falam e tocam em todos, quanto mais arte nas escolas, mais elas se tornam acolhedoras. Quanto mais percebemos que todo ser é mais do que consumidor, é produtor de conhecimentos e artes mais agregamos gente e menos perdemos talentos.

Um dica é buscar apoio em Gardner que, em suas pesquisas, aborda as múltiplas inteligências, mas não devemos nos esquecer de Bourdier com seu sábio capital cultural. Ambos são importantes para compreender os diferentes sujeitos em diferentes contextos históricos e sociais, para que possamos criar espaços potencializantes.


Ficha Técnica do Filme
Nome original: Taare Zameen Par (Com Estrelas na Terra)
Ano produção: 2007
Dirigido por: Aamir Khan e Amole Gupte
País: Índia
Classificação: Livre
Gênero: Drama

22 de junho de 2014

MÃE MULHER OU VICE E VERSA

Por que é tão difícil ser mãe e mulher ao mesmo tempo e agora? Deve ser porque todos ao nosso redor tentam nos convercer que essas palavras são sinônimas. O que não são!!!!

Se abro um jornal vejo um bombardeio de propagandas com uma única mensagem, apesar dos anúncios serem distintos, que para ser mulher completa é necessário ser mãe. Ligo a televisão e todas as reportagens da semana retratam mulheres admiráveis que são mães… sempre no perfil polivalente.

Hoje sou mãe que luta para se (re)afirmar como mulher a todo instantes, posso mais do que nunca afirmar que para ser mulher completa a maternidade não é primordial. É só uma escolha, mas para ser mãe realizada é necessário se reconhecer como mulher. Posicionar-se como tal, ser mulher-mãe-militante-feminista, sendo todas essas característica, principalmente a última, muito difíceis para esse mundo loucamente machista que nos abriga.

Digo isso porque quando as mulheres se tornam mães são colocadas em outro patamar, o de ser sagrado e heroico e em contra partida seres sem direitos, principalmente o direito de ter vida própria, porque a mãe que não vive em função dos filhos não é mãe, a mãe que não se anula por um filho deixando de trabalhar, estudar ou seguir seus sonhos são mães que abandonam seus filhos. As mães-mulheres (ou vice e versa) são mesmo seres sagrados, pois conciliar tudo isso é muito difícil. É travar uma luta diária contra as responsabilidades sociais posta para nós há séculos. É reeducar quem está ao nosso lado o tempo inteiro, mostrando ao nosso companheiro que a responsabilidade da casa, a criação e educação dos filhos compete aos dois. Compete ao homem também lavar e passar roupas, cozinhar, varrer a casa, trocar fraldas… ufa!!! Tudo aquilo que por muito tempo só coube às mulheres.

Nesse processo de reeducar quem está ao nosso redor a ter outros olhares para nós bem como o agir diferente, estaremos deixando o nosso grito ecoar e quem sabe esse eco não chegue aos ouvidos dos marqueteiros e eles passem a fazer propagandas de produtos de limpeza e fraldas de bebês destinadas a homens e pais. Quando isso acontecer terei a certeza do quão somos guerreiras, não por conciliar a tripla jornada de trabalho, mas por fazer um mundo inteiro perceber que somos mulheres e que não temos a obrigação de ser mãe, que somos mulheres e trabalhamos fora e temos companheiros que dividem as tarefas da casas conosco e que se escolhermos ser mães – porque isso sim é uma escolha – possamos ter pais que entendam que seu papel é tão importante quanto os das mães, portanto mãos na massa.

P.S.: Ah! Quem vós escreve é uma mãe presente, dedicada a sua filha, que tem dois trabalhos, que divide as tarefas da casa com o companheiro, que gosta de dançar, que passeia, que estuda e que principalmente se reeduca para ter em suas ações cotidianas uma postura feminista, para que a mulher que existe em mim não seja invisibilizada por essa sociedade.

P.S.: Resgatado do outro blog que se perdeu no ano que passou, mas a atualidade dos anseios e desejos me faz compartilhar.

19 de junho de 2014

FRIDA KAHLO, SEJA BEM VINDA ÀS SALAS DE AULA

“Nunca pintei sonhos, pintava minha própria realidade” Frida Kahlo

Levar os alunos à conhecerem Frida Kahlo é ampliar o capital cultural dos pequenos, que estão sedentos de conhecimentos, além de aguçar a criatividade que está em ebulição. E a nós, educadores, cabe facilitar essa caminhada por novos mundos.
Para contribuir temos o livro "Frida" onde Jonah Winter consegue trazer, da forma mais sensível do mundo, um romantismo e uma doçura que, quando lançamos o olhar pela primeira vez para vida e obra de Frida Kahlo, não conseguimos perceber. O sofrimento presente na vida da pintora torna-se beleza e criatividade a cada página. O livro é fascinante! Não só pelo enredo, mas também pelas belíssimas ilustrações de Ana Juan. A ilustradora dá a cor que a infância de Frida merece, pois retrata com fidelidade o clima mexicano, além de buscar inserir a todo momento elementos das obras da artista no livro.
E  aos que acham que o livro não seria adequado para crianças pequenas digo que quando vi pela primeira vez não exitei em comprar, só por ser da Frida. Ao chegar em casa, ou melhor, antes de chegar já entreguei para minha filha de 2 anos que amou as ilustrações e após ouvir a história não largou mais o livro. Também não posso deixar de dizer que já levei o livro para sala de aula, para educação infantil de 3-4 anos e foi um sucesso. O objetivo foi trabalhar a identidade dos alunos, que eles se percebesse e percebessem o outro, onde eles pudessem também consolidar seu esquema corporal através do autorretrato. E foi um sucesso só que compartilho com vocês aqui.

Trocas de experiências
Livro: Frida
Autor: Jonah Winter
Ilustração: Ana Juan
Editora: Cosanayf

O ponto de partida foi contar a história do livro "Frida" permitindo a todos explorarem os detalhes que a ilustração do livro nos oferece. Em seguida representamos uma Frida Khalo para nos acompanhar em sala de aula, em que um aluno deitou-se no papel pardo para que pudéssemos fazer o molde corporal, após colocamos uma foto da Frida Kahlo no rosto e enfeitamos a pintora com roupas bem coloridas. A imagem foi colocada na parede da sala para, enquanto estivéssemos abordando o tema, a Frida estaria ali, nos acompanhando e nos inspirando.
Outra atividade que desenvolvi com a turma, para aproximá-los da pintora, foi trazer suas obras de arte para sala de aula. Assim eles puderam manusear as pinturas e se sentirem mais perto dela, depois de muitas observações e conversas ficaram todos expostas na sala enquanto o tema permeava as aulas. O interessante em trazer as obras dela foi partir para as características que os alunos observaram e lógico que todos perceberam a sobrancelhas da pintora e esse foi o ponto principal para que eu pudesse entregar uma obra da artista para os alunos e pedir que eles colocassem o que estava faltando e pintasse bem bonito, no caso retirei as sobrancelhas. Seguindo as atividades, vesti as meninas de Frida, com sobrancelhas bem marcadas, fazer a mesma sobrancelhas nos meninos e fotografá-los após o seguinte questionamento “Se a Frida Khalo tivesse irmão como seria a sua sobrancelha?” é super interessante, pois eles começam a perceber que têm traços dos parentes.

Alunos colocando a parte que retirei da obra da Frida Kalho: sobrancelhas

                                                                          Aluna vestida de Frida Kahlo

Em seguida dessa atividade parti para que eles brincassem de espelho, um de frente para o outro, primeiramente observando o outro e vendo os detalhes do rosto, depois a proposta foi imitar o que o outro fazia. Assim eles tiveram a atenção e a percepção aguçadas para que pudéssemos partir para a atividade com o espelho de verdade, em que pedi aos alunos que se observassem bem e me dissessem o que estavam vendo, além de se tocarem. Foi interessante que essa parte foi individual e pude perceber o que cada um absorveu para prosseguir com as atividades. Para me dar apoio nessa parte do projeto usei um outro livro “Espelho”, antes de iniciar a brincadeira e a atividade com espelho.

Livro: Espelho
História e Ilustração: Suzy Lee
Editora: Casacnayf

Após essa exploração total da própria imagem passamos para os autorretratos direcionados e livres. Primeiramente com papel espelhado para que eles pudessem se retratar e se ver ao mesmo tempo. O trabalho terminou com um belo mural com as fotos e os desenhos deles se autorretratando, um lindo “caretródomo”, como nomeamos nossa culminância que começou lá na história da Frida Kahlo e findou com a imagem de cada um dos alunos. Vale ressaltar que todas as atividades foram regadas de muita música mexicana para o clima ficar completíssimo.

Autorretrato no papel ofício com lápis de cor e no papel espelhado com caneta permanente.


 Foto para o "Caretródomo" e o trabalho de autoconhecimento no espelho.

Para quem quiser ampliar o trabalho, o meu durou quase duas semanas, tem as belas caveiras mexicanas para trazer um pouco mais da cultura do país, e não pense que os pequenos não vão gostar. Para aproximar deles tem a música do grupo Palavra Cantada “Vem Brincar Com a Gente” e a brincadeira popular “Tumbalacatumba”. Outra é partir para atividades 3D, fazendo esculturas para representar os bichinhos que povoaram a infância de Frida, vale desde rolo de papel higiênico a argila ou, porque não, bichinhos de pano. Até mesmo, levar os alunos, a trabalharem o corpo regado com dança mexicana é uma boa pedida. Deixe sua imaginação voar nas cores da Frida e faça seus alunos se deliciarem com o que há de melhor nas pinturas dela, a força e a intensidade.

Páginas do livro "Frida".