Nessa leva de indicação de livros três falam diretamente das cultura e história afro-brasileira e os outros três são histórias cotidianas que trazem como protagonistas personagens negros. Essas propostas de leituras nos leva a refletir que também aplicamos a lei 10.639 quando trazemos
livros com personagens negros, mesmo que esses não falem da temática
diretamente. Definitivamente estamos ocupando espaços, porque não existe espaço
vazio e os nos locais que não estivermos será ocupado por quem está de forma hegemônica. Os livros de princesas europeias não
dizem, diretamente, que ser belo é ser somente como elas, mas
apresentam a beleza somente daquela forma. Então temos que ter uma
overdose de livros que falem do negro de todas as formas, mostrando a
sua presença na sociedade brasileira.
Título: O Príncipe da Beira
Texto e Ilustração: Josias Marinho
Editora: Mazza Edições
O livro de ilustrações simples e claras, mas não
menos belas, é quase que uma autobiografia. O pequeno menino que
vive na beira do rio Guaporé, que adora subir em pé... pé de
laranja, de abacate e no que mais der fruta gostosa e for possível
subir me remete ao próprio escritor. Porém, caso não seja a
sua história, com certeza é a das lembranças de sua infância,
pois ele nasceu em uma cidade que fica na margem desse rio lindo, tão
inspirador que saiu o poético e ingênuo livro do menino que é
príncipe da sua vida e que brinca com o mundo ao seu redor. O livro
se torna interessante, não só pela sensibilidade de trazer a poesia
do dia a dia, mas por trazer como personagem principal desse enredo
cotidianamente gostoso um menino negro, lindo e feliz. Pois assim que
o negro deve ser retratado na literatura infanto-juvenil – lindo e
feliz – para que as crianças negras sintam orgulho de sua imagem,
para que as crianças negras se sintam representadas.
Título: Josephine na Era do Jazz
Autor: Jonah Winter
Ilustradora: Majorie Priceman
Editora: Martins Fontes
Sim, é isso mesmo que você está pensando, o
livro fala de Josephine Baker. Você deve estar transbordando de
felicidade, assim como fiquei quando uma amiga me contou do livro e
não me coube quando encontrei para comprar. É excelente ter a
biografia dessa forte mulher posta em um livro infanto-juvenil. É
maravilhosos começar contando para os pequenos que essa diva da
Broadway discursou na mesma cerimônia que Martin Luther King
reanimou sonhos nos negros estadunidenses.
Mas voltemos ao livro. Ele é dançante, e não
podia ser diferente. As palavras que algumas vezes se repetem, a
disposição das ilustrações que envolvem a história fazendo com
que tudo pareça ter som e movimento ao contar a história de Josephine,
a mais bem paga showgril da época. Parece que o livro foi
coreografado ao mostrar a força, determinação e, principalmente,
autenticidade dessa belíssima mulher negra, militante e bem sucedida
em uma época em que, para as mulheres, não era fácil ser nenhuma
dessas três coisas.
Título: Meninas Negras
Autor: Madu Costa
Ilustrador: Rubem Filho
Editora: Mazza Edições
Esse livro é pequeno, mas vale adquiri-lo.
Primeiramente porque tem como protagonistas três belas meninas
negras. Segundo que ele propõe um resgate na ancestralidade delas.
Terceiro e último ponto a favor do livro é que ele mostra isso tudo
feito por uma professora. Esse último é um motivo interessante
porque mostra, na sutileza das palavras, como uma professora que
positiva a memória e história dos povos africanos faz com que as
crianças se enxerguem e percebam que os saberes e sabores que vieram
de lá e que aqui ficaram são seus.
Título: Ombela a Origem das Chuvas
Autor: Ondjaki
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Pallas Mini
Sou suspeita quando se fala de Ondjaki, todos
livros dele que chegaram as minhas mãos devorei em um segundo. Esse
acabou de sair do forno e conta um mito, o surgimento das chuvas
partindo da história da deusa Ombela.
Ombela em umbundu é chuva. O livro fala que a
história dela é contada pelos mais velhos. Coloca, a visão
eurocêntrica maniqueísta por água abaixo literalmente, pois o
livro fala do aprender a chover. Fala da relação familiar de troca
de aprendizados. Mostra a relação do homem com a natureza e vice e
versa.UFA!!!! Quantos elementos da cultura africana em um só
livro!!! Bem, todos os livros que li dele são assim, um retrato das
culturas desse diversificado continente. Ondjanka nos leva a uma
viagem sem que percebamos, nos faz sentir parte da história e com a
certeza de que conhecemos um pouco mais de nossas ancestralidade. E
não posso deixar de comentar que a ilustrações de Rachel só nós
deixa mais aconchegada com nossa ancestralidade, é como se os pingos
salgados das lágrimas de Ombela caísse em nossos lábios.
Título: O Mundo no Black Power de Tayó
Autora: Kiusam de Oliveira
Ilustradora: Taísa Borges
Editora: Peirópolis
Arrisco-me a dizer, sem ser indelicada com todos
os outros escritores sobre o tema, que esse é o melhor livro que
aborda o cabelo crespo. É lindo, levanta a autoestima de qualquer um
ao perceber a força do Black Power de uma menina tão pequena, que
se espelha e encontra apoio na sua mãe. É interessante porque
mostra a relação de uma mãe que reafirma toda a história e
memória de seu povo nos belos cabelos de Tayó.
O livro é belo da primeira a última página, a
cada descrição feita a alegre menina. É engrandecedor ver as
palavra que exalta a cultura negra destacada a cada página e melhor
ainda é ver os coloridos que dão o tom contagiante da bela Tayó.
No fim, dá vontade de pedir para nossas mães trançarem nossos
cabelos.
Outro ponto de positivíssimo é que quando você
acha que acabou e vira a página encontra um glossário das palavras
significativas do livro e uma breve explicação da força do
movimento Black Power, o que só engrandece o livro.
Título: O Menino, o Jabuti e o Menino.
Autoria e Ilustração: Marcelo Pacheco.
Editora: Panda Books
O livro que de forma sensível trata a questão
importantes como morte, vida e amizade. Livro lindo, sem texto mas
com imagens que a cada página falam mais do que mil palavras. Seria
triste se não fosse a ternura como trata a morte e a força que
coloca nos encontros que a vida nos proporciona. Personagem principal
é o jabuti, mas os meninos são essenciais para o andamento da
história. O melhor de tudo, personagens negros em histórias
sensíveis. É isso que precisamos para ocupar espaços nas
prateleiras, nos corações e na memórias das crianças.
Ananda, obrigada pelas dicas. Fiquei curiosa com o livro sobre Josephine.
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