26 de outubro de 2014

A GEOMETRIA NO BAOBÁ DE OBAX

Livro: Obax
Texto e Ilustração: André Neves
Editora: Brinque-Book

A delícia de trabalhar com o livro Obax é indescritível, já é ser o terceiro ano que faço um trabalho com ele e cada vez que o utilizo uma coisa nova emerge, a simbologia que o baobá carrega é muito bem exemplificado com sua chuva de flores que finaliza a história e legitima a menina que adora contar histórias. Nesse ano mergulhamos nas formas geométricas e trouxemos conceitos matemáticos para a Educação Infantil.
Inciamos as atividades fazendo a contação da história que logo deixou todos bem atentos, pois o livro é lindo e envolvente. Após contar a história conversamos um pouquinho sobre o baobá e sua simbologia. Em seguida falamos das flores hexagonais africanas, e mostramos a forma geométrica. Mais importante do que aprender o nome hexágono que é bem difícil de uma criança com 3-4 anos falar foi apresentar os números, contar, diferenciar lados de ângulos e fazer com que percebam o que é uma forma geométrica.Após apresentarmos a forma geométrica montamos a flor como se fosse um quebra cabeça, com cores variadas. Acredito na importância das crianças terem escolhas nas produções. Enquanto alguns montavam o quebra-cabeça flor africana outros brincavam de fazer flor com massinha.


No dia seguinte retomamos a história Obax e usamos como apoio o livro Ao Sul da África. Apresentamos as diversidade da flora africana. Percebemos formatos geométricos em algumas e apresentamos o quadrado, contamos seus ângulos e lados e montamos uma flor com essa forma. Em seguida fizemos mistura de cor até eles chegarem a cor mais próxima do tronco do baobá depois de observarmos diversas imagens da árvore. Misturamos branco com marrom, e é uma delícia misturar cores com as crianças, trabalhamos tonalidade de cor, claro e escuro, e usamos as mãos para pintar. É uma sensação deliciosa sentir textura e temperatura da tinta.

 

 

Outra atividade desenvolvida foi observar as partes da flor, vimos o miolo, a pétalas, o pólen e até o ovário, aprendemos que o fruto nasce de uma flor. Após retomamos a imagem da flor do baobá e percebemos que ela tem cinco pétalas, então apresentamos o pentágono, montamos a flor a partir dessa forma com o miolo feito de algodão. Sentimos a textura do algodão e usufruímos de sua maciez passando na nossa pele. Nesse mesmo dia desenvolvemos outra atividade com as crianças: a criação de um baobá feito com as mãos e braços, cheio de flores coloridas que foram feitas de carimbo de rolha de vinho. Para tal atividade percebemos como os troncos da árvore são largos e que suas folhas pequenas e cheia de galhos. Enquanto um grupo fazia a árvore outro desenhava um baobá e sua chuva de flores.


 

No dia seguinte foi uma grande surpresa, pois eles entraram na sala e tinham folhas de papel A3 colada no chão. E a curiosidade ficou aguçadíssima, assim não fizemos a rotineira rodinha inicial e fomos logo para a atividade que era descobrir, em dupla, com giz de cera o desenho que ia se formar. Haviam diversas folhas de árvores em diferentes formatos. Após fizemos a rodinha e conversamos sobre essa parte da árvore e sua função bem como existem diferentes formas. Conhecemos então a folha do baobá e seu formato. Cada aluno recebeu uma e pintou.
 
  
Quando os alunos retornaram às atividades no dia posterior, retomamos ao livros e suas ilustrações, assim apresentamos para eles as estamparias africanas. Percebemos a geometria presente nos tecidos bem como suas belezas, as crianças comentaram muito sobre as cores e belezas dos tecidos. Apresentamos a forma círculo e vimos que essa forma geométrica não possui lados e nem ângulos. Assim fizemos flores com o círculo e com tecido, para representar as estamparias africanas que não encontrei em tecidos, imprimi vários temas da estamparia e fizemos flores com a forma geométrica triângulo. Enquanto um grupo faziam suas flores outro grupo pintavam estampas com os coloridos que perceberam. Outra atividade que fizemos nesse dia e que eles amaram, foi forrar um tecido no chão recheado de literatura afro-brasileira e convidá-lo para ler. Foi um sucesso!!!!

 

 
 
 

No penúltimo dia de atividades, para representar o retângulo trouxemos outra textura contrapondo a maciez do algodão, a lixa. Fizemos retângulos da lixa e pintamos com os dedos. Nesse dia também fizemos um convite com origami em formato de flores. Convite para quê? Trazer os responsáveis a compartilharem um pouco da nossa alegria de trabalhar com o livro Obax, uma forma da gente levar nossas ações para além dos muros da escola e principalmente politizar mais pessoas. Outra atividade que realizamos foi a construção de arte abstrata com formas geométricas de diferentes cores e tamanhos, para tal atividades trouxemos o livro "O país dos ângulos", revimos as formas geométricas e viramos grandes artistas.
 

  
  

No último e tão esperado dia os pais chegaram os nossos murais já estavam montado, sentaram-se a convite das crianças na rodinha e contamos a história para ele. Literalmente contamos porque as crianças estavam tão ansiosas que contavam comigo a história o que também confirmavam que o livro foi bem trabalhado e deliciosamente aceito por todos. Para finalizar convidamos os pais para observarem o nosso baobá e aconteceu o que todos mais queriam que acontecesse: nossa CHUVA DE FLORES. Um trabalho que teve a “boniteza”, o conhecimentos e a alegria dialogando da forma que a educação deve ter, e coloca mais uma dose de alegria nisso!!!!!


 

 

 
 








12 de outubro de 2014

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, MAIS ALGUMAS DICAS

Nessa leva de indicação de livros três falam diretamente das cultura e história afro-brasileira e os outros três são histórias cotidianas que trazem como protagonistas personagens negros. Essas propostas de leituras nos leva a refletir que também aplicamos a lei 10.639 quando trazemos livros com personagens negros, mesmo que esses não falem da temática diretamente. Definitivamente estamos ocupando espaços, porque não existe espaço vazio e os nos locais que não estivermos será ocupado por quem está de forma hegemônica. Os livros de princesas europeias não dizem, diretamente, que ser belo é ser somente como elas, mas apresentam a beleza somente daquela forma. Então temos que ter uma overdose de livros que falem do negro de todas as formas, mostrando a sua presença na sociedade brasileira.

Título: O Príncipe da Beira
Texto e Ilustração: Josias Marinho
Editora: Mazza Edições

O livro de ilustrações simples e claras, mas não menos belas, é quase que uma autobiografia. O pequeno menino que vive na beira do rio Guaporé, que adora subir em pé... pé de laranja, de abacate e no que mais der fruta gostosa e for possível subir me remete ao próprio escritor. Porém, caso não seja a sua história, com certeza é a das lembranças de sua infância, pois ele nasceu em uma cidade que fica na margem desse rio lindo, tão inspirador que saiu o poético e ingênuo livro do menino que é príncipe da sua vida e que brinca com o mundo ao seu redor. O livro se torna interessante, não só pela sensibilidade de trazer a poesia do dia a dia, mas por trazer como personagem principal desse enredo cotidianamente gostoso um menino negro, lindo e feliz. Pois assim que o negro deve ser retratado na literatura infanto-juvenil – lindo e feliz – para que as crianças negras sintam orgulho de sua imagem, para que as crianças negras se sintam representadas.

Título: Josephine na Era do Jazz
Autor: Jonah Winter
Ilustradora: Majorie Priceman
Editora: Martins Fontes

Sim, é isso mesmo que você está pensando, o livro fala de Josephine Baker. Você deve estar transbordando de felicidade, assim como fiquei quando uma amiga me contou do livro e não me coube quando encontrei para comprar. É excelente ter a biografia dessa forte mulher posta em um livro infanto-juvenil. É maravilhosos começar contando para os pequenos que essa diva da Broadway discursou na mesma cerimônia que Martin Luther King reanimou sonhos nos negros estadunidenses.
Mas voltemos ao livro. Ele é dançante, e não podia ser diferente. As palavras que algumas vezes se repetem, a disposição das ilustrações que envolvem a história fazendo com que tudo pareça ter som e movimento ao contar a história de Josephine, a mais bem paga showgril da época. Parece que o livro foi coreografado ao mostrar a força, determinação e, principalmente, autenticidade dessa belíssima mulher negra, militante e bem sucedida em uma época em que, para as mulheres, não era fácil ser nenhuma dessas três coisas.

Título: Meninas Negras
Autor: Madu Costa
Ilustrador: Rubem Filho
Editora: Mazza Edições

Esse livro é pequeno, mas vale adquiri-lo. Primeiramente porque tem como protagonistas três belas meninas negras. Segundo que ele propõe um resgate na ancestralidade delas. Terceiro e último ponto a favor do livro é que ele mostra isso tudo feito por uma professora. Esse último é um motivo interessante porque mostra, na sutileza das palavras, como uma professora que positiva a memória e história dos povos africanos faz com que as crianças se enxerguem e percebam que os saberes e sabores que vieram de lá e que aqui ficaram são seus.

Título: Ombela a Origem das Chuvas
Autor: Ondjaki
Ilustradora: Rachel Caiano
Editora: Pallas Mini

Sou suspeita quando se fala de Ondjaki, todos livros dele que chegaram as minhas mãos devorei em um segundo. Esse acabou de sair do forno e conta um mito, o surgimento das chuvas partindo da história da deusa Ombela.
Ombela em umbundu é chuva. O livro fala que a história dela é contada pelos mais velhos. Coloca, a visão eurocêntrica maniqueísta por água abaixo literalmente, pois o livro fala do aprender a chover. Fala da relação familiar de troca de aprendizados. Mostra a relação do homem com a natureza e vice e versa.UFA!!!! Quantos elementos da cultura africana em um só livro!!! Bem, todos os livros que li dele são assim, um retrato das culturas desse diversificado continente. Ondjanka nos leva a uma viagem sem que percebamos, nos faz sentir parte da história e com a certeza de que conhecemos um pouco mais de nossas ancestralidade. E não posso deixar de comentar que a ilustrações de Rachel só nós deixa mais aconchegada com nossa ancestralidade, é como se os pingos salgados das lágrimas de Ombela caísse em nossos lábios.

Título: O Mundo no Black Power de Tayó
Autora: Kiusam de Oliveira
Ilustradora: Taísa Borges
Editora: Peirópolis

Arrisco-me a dizer, sem ser indelicada com todos os outros escritores sobre o tema, que esse é o melhor livro que aborda o cabelo crespo. É lindo, levanta a autoestima de qualquer um ao perceber a força do Black Power de uma menina tão pequena, que se espelha e encontra apoio na sua mãe. É interessante porque mostra a relação de uma mãe que reafirma toda a história e memória de seu povo nos belos cabelos de Tayó.
O livro é belo da primeira a última página, a cada descrição feita a alegre menina. É engrandecedor ver as palavra que exalta a cultura negra destacada a cada página e melhor ainda é ver os coloridos que dão o tom contagiante da bela Tayó. No fim, dá vontade de pedir para nossas mães trançarem nossos cabelos.
Outro ponto de positivíssimo é que quando você acha que acabou e vira a página encontra um glossário das palavras significativas do livro e uma breve explicação da força do movimento Black Power, o que só engrandece o livro.

Título: O Menino, o Jabuti e o Menino.
Autoria e Ilustração: Marcelo Pacheco.
Editora: Panda Books

O livro que de forma sensível trata a questão importantes como morte, vida e amizade. Livro lindo, sem texto mas com imagens que a cada página falam mais do que mil palavras. Seria triste se não fosse a ternura como trata a morte e a força que coloca nos encontros que a vida nos proporciona. Personagem principal é o jabuti, mas os meninos são essenciais para o andamento da história. O melhor de tudo, personagens negros em histórias sensíveis. É isso que precisamos para ocupar espaços nas prateleiras, nos corações e na memórias das crianças.


4 de outubro de 2014

BRUNA E A GALINHA D'ANGOLA

Nome: Bruna e a Galinha d'Angola

Autor: Gercilga de Almeida
Ilustração: Valéria Saraiva
Editora: Pallas


Para realizar esse projeto que foi muito prazeroso usamos o livro “Bruna e a Galinha de Angola” de Gercilga de Almeida, mas antes de trazer a literatura tivemos que preparar os pequenos. O ponto de partida para iniciar a semana foi a história de cada criança, onde refletimos que mesmo tão pequenos eles já têm história que vem antes deles nascerem, que a família deles carregam, assim apresentamos aos alunos o conceito de ancestralidade e o valor das artes e da oralidade, no caso usamos a fotografia para narrativa de suas histórias. Construímos uma linha do tempo com imagens dos alunos na barriga da mãe, bebês e nos dias de hoje, com quatro anos. Apresentamos como é quando uma criança está no ventre materno usando filme do desenvolvimento do feto e mostrando ultrassonografias, reproduzimos com uma boneca o ventre materno, com cordão umbilical em um saco transparente cheio d'água e para findar o primeiro momento assistimos o desenho “Kiriku e a Feiticeira”, que nos fez refletir sobre nosso papel como sujeito social e como fazemos parte desse universo antes mesmo de nascer.  
  
   

 

Com os conceitos que são necessários para compreender a história e seu contexto apresentados fizemos a contação da história proposta e nesse momento as crianças ficaram envolvidíssimas, pois além do livro outro recurso utilizado foi os “panôs” que é uma das abordagens do livro e têm o intuito de resgatar as histórias através da arte de pintar tecido. As páginas do livro foram todas reproduzidas em tecidos grandes para que os alunos pudessem se envolver integralmente com a literatura e perceber essa forma de contar a história, de trazer à tona suas ancestralidade., reafirmando-lhes a importância da oralidade nas culturas africanas. Após a contação de história foi possível recriar um espaço de compartilhamento do que foi ouvido, pois as crianças contaram e recontaram o que as imagens falavam, baseado no que escutaram. Enquanto o grupo manuseava os panôs da história os alunos foram convidados, individualmente, a construírem seus próprios panôs, pintando em tecido com uma variedade de cores e pinceis. Foi apresentado algumas imagens de panôs africanos e assim cada aluno pode explorar a sua liberdade criativa se inspirado nas imagens, onde resultou belas pinturas.

   

 
 

No terceiro dia os alunos foram convidados para relembrar o que foi apresentado nos dias anteriores focando na galinha, onde apresentamos a lenda da Galinha d'Angola, a música do Vinícius de Moraes de mesmo nome e produzimos um fantoche de vara com as mãos dos alunos para brincarmos de teatro. Pintamos as mãos de preto que foi usada como carimbo em um papel cartão. Em seguida as crianças fizeram pintas na galinha com o dedo. Essa atividade foi de grande produtividade, pois enquanto alguns cantavam a música outros encenavam as histórias ouvidas, “Bruna e a Galinha d'Angola” e “A lenda da galinha d'Angola”. O palco ficou livre para que os alunos apresentassem o que lhes despertassem desejo de apresentarem dentro da temática.


 

Também apresentamos aos alunos o vídeo do livro trabalhado que foi produzido pela Cor da Cultura no projeto Livro Animado. Assim houve uma interação de outro recurso para interação com a história e os alunos tiveram a oportunidade de relembrar o livro lido no início da semana. Em seguida apresentamos um mapa gigante da África para que os alunos pudessem localizar Angola e visualizar a cartografia do continente. Outra atividade que realizamos nesse momento foi relembrar que o tio de Bruna era oleiro e que a mesma aprendeu a fazer galinhas de barro. Foi apresentado uma galinha de barro produzida por uma educadora da turma e trouxemos os alunos para experiência de manusear o barro e construir a sua própria escultura.

    
 

Para findar o projeto inspirado no livro fizemos a montagem de nossa exposição, pois todos os trabalhos ficaram expostos na entrada do colégio para que a lei 10.639/03 fosse para além dos muros da escola e que qualquer pessoas que pela escola adentrasse pudesse se sensibilizassem com tão rica cultura, além de dar oportunidade aos alunos reviverem o que foi produzido durante a semana contando e recontando a exposição para seus responsáveis. Nesse dia foi apresentado aos alunos a música da artista Angelique Kidjo e retornamos ao mapa para ver em que local fica Benin cidade onde a cantora nasceu e para finalizar a semana as crianças foram convidadas a dançarem com tecidos, no ritmo e essência da música.

 

As crianças que estou trabalhando nesse ano tiveram o primeiro contato, dentro do espaço escolar, com as culturas e histórias da África o que torna positivo devido a forma que eles estão mergulhando nesse contato. Simplesmente porque os alunos começam a se identificar com vários elementos a medida que vamos apresentando novas artes e contando histórias, contribuindo para um aproximar-se das culturas afrodescendetes de forma fascinante.