19 de abril de 2017

Literatura Indígena - Thiago Hakiy

O Dia do Índio chegou e com ele muitas inquietações que me acompanham na labuta de professora e hoje como mãe de uma criança na Educação Infantil. É que só hoje, e as vezes sempre, as crianças irão falar de índio. É nesse dia também que parece carnaval e as crianças saem fantasiadas de índio. Dizem que é homenagem, mas como uma companheira de luta educacional diz e trabalhou com seu alunos cultura Indígena não é fantasia. (Aperte no link e veja o lindo trabalho).


Pensando nisso e com muito cuidado, porque não sou uma estudiosa do tema, vou tentar compartilhar com vocês alguns livros para falar sobre cultura indígena o ano inteiro. Para começar, uma coisa que aprendi e que vou compartilhar com vocês é que não existe índio (no singular). Existem diferentes povos indígenas. Então não vamos generalizar achando que todos são iguais. Não são!!! Quando for falar sobre indígena procure saber a que etnia pertence e conhecer um pouco da sua organização e cultura. Para não fazer o mais do mesmo. Para não consolidar esteriótipos nas crianças e principalmente para desconstruir os que nos foram ensinados.


Vou compartilhar literaturas indígenas. Livros infantis escritos por indígenas. E vou usar o termo literatura indígena sim. Porque, como Daniel Munduruku nos diz em alguns de seus textos, é literatura nova sim e produzida por indígena.


Agora, falaremos de Thiago Hakiy descendente do povo Sateré-Mawé que traz um pouco da sua ancestralidade para os livros que compartilha conosco. Foi ganhador do concurso Tamoios em 2012. O povo Satere-Mawé vive na Floresta Amazônica. Foram os Sateré-Mawé que desenvolveram a cultura do guaraná, tornando-o tão popular em todo país.

Livro: Guayanê Derrota a Cobra Grande
Autor: Tiago Hakiy 
Ilustradora: Maurício Negro
Editora: Autêntica

Esse livro premiado no 9º Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas. Uma história de um bravo guerreiro mawé, uma cobra grande e um grande amor. Tudo isso junto resultou em uma linda história regada de elementos que nos fazem conhecer um pouco da cultura dos povos sateré-mawés. Guaynê é apaixonado por Tainá. Uma moça alegre, encantadora e querida por todos. Um dia, na beira do rio, cobra grande a ataca. Enquanto todos choram Guaynê corre com sua faca afiada, seu arco e suas flechas. Numa grande aventura, digna de um grande herói, ele salva Tainá. É divinamente maravilhoso ver as crianças vibrarem com um herói diferente do cotidiano deles.


Com lindas ilustrações e uma narrativa envolvente o livro vai mostrando um pouco da cultura desse povo. Por exemplo, vemos no casamento uma festa linda com muito peixe, caça, alegria e tarubá. Uma grande festa que dura dias... Ah!!! Tarubá tem sua tradução lá no fim do livro.

Livro: Awyató-Pót, histórias indígenas para crianças
Autor: Tiago Hakiy 
Ilustradora: Maurício Negro
Editora: Paulinas

Outro livro do autor é Awayató-Pot histórias indígenas para crianças que inicia com uma poesia que fala que exalta a luta pela preservação da cultura indígena.


A história de 32 páginas é dividida em capítulos que contam a trajetória de Awayató-Pót. No primeiro capítulo vemos o nascimento do menino e sua chegada a aldeia. Filho do Gavião Real e de Móy, mulher que se perdeu da aldeia e virou cobra grande, chega a aldeia e o painy o reconhece como mawé. O menino cresce se destacando em todas as atividades que se propõe realizar e amado por todos.


Nos capítulos que se seguem Awayató-Pót vai consolidando sua bravura ao conseguir a noite para seu povo, ao dialogar com cobrar, ao se casar e até ao ter uma filha cunhãporanga. Recheada de atos heroicos e momentos de emoção o livro vai nos apresentando a humanidade no herói. Um herói como qualquer um, que ora faz coisas legais ora não.


Outra coisa maravilhosa de todos livros que tenho do Tiago Hakiy é são os glossários no fim do livro. Maravilhoso para quem, como eu, não conhece o significado de cunhãporanga e painy.
  


Dentro da estante de livros Confabulantes tem mais um do Tiago Hakiy, por ora o último. O livro Noite e Dia na Aldeia é ótimo, principalmente para a educação infantil e os primeiros anos do fundamental.  Com ilustrações alegres e coloridas, frases curtas e letras maiúsculas. Não que os outros não sejam, o primeiro já usei com o maternal e o segundo estou lendo para minha filha. 

Livro: Noite e Dia na Aldeia

Autor: Tiago Hakiy 
Ilustradora: Bruno Nunes
Editora: Positivo

Nessa obra o autor vai apresentando o cotidiano de seu povo durante o dia e a noite. A noite é recheada de seres da floresta que festejam. Por sua vez, na aldeia, os mawé também festejam sob a luz da Lua.


Quando o dia chega, traz o Sol com sua claridade espalhando alegria a todos que acordam.


A rotina do dia é bem agitada, cheia de coisas para fazer que o livro vai nos contando recheados de palavras que se explicam ao fim do livro. Tarubá, kunhã, bacurá... e muitas outras palavras para conhecermos um pouco da língua mawé. 


O livros infantis de literatura indígena torna-se essencial nas escolas e a lei 11.645/08 veio para confirmar isso. Como Tiago Hakiy nos diz a literatura indígena leva a cultura dos diferentes povos a muitos lugares. Trazendo o (re)conhecimento de formas diferentes de ver o mundo.


10 de abril de 2017

Grandes Olhares: um projeto inspirado no fotógrafo baiano Alvaro Villela


Essa atividade já estou para compartilhar com vocês faz um tempinho, mas a falta de tempo para organizar a postagem não permitia. Foi um trabalho muito interessante, desenvolvido em conjunto com a professora que dividia turma comigo e as agentes da turma que são explosões de criatividade. 


Vamos ao projeto!!! No início do ano trabalhamos identidade com as crianças do maternal e tínhamos que fazer isso tudo associado ao tema do ano que era sobre o Nordeste. Então não tivemos dúvidas de falarmos de identidade a partir do olhar de um grande artista baiano Alvaro Villela.



Alvaro Villela é peculiar em fotografar sua terra, Salvador. O artista retrata como ninguém o cotidiano, as pessoas e as inquietudes baianas. Foi pela magia que há no modo de retratar seu território que resolvemos iniciar o ano com sua arte. Foi mágico porque as crianças mergulharam em um universo que inicialmente era banal para elas: a fotografia. Muitas já faziam uso de celular dos responsáveis e sabiam fotografar pelo celular. O que elas não sabiam é que fotografia é arte e que tem história. E esse foi o desafio que tivemos, tirar a fotografia do banal e mostrar sua magnitude e importância na história da arte e como documento histórico também. Para fazer isso com crianças de 3-4 anos só um artista de peso. Então fomos nós!!!

Foto de Alvaro Villela

Iniciamos com algumas fotos selecionadas do fotógrafo que retratavam pessoas em lugares, porque acreditamos que, numa relação dialética, pessoas fazem lugares e lugares fazem pessoas. Assim as crianças puderam apreciar a forma que o artista retratava sua cidade e como fica claro a identidade soteropolitana em cada clic. Conversamos muito sobre as fotos, passeamos pelo mapa para ver o quão longe do Rio a cidade de Salvador fica e quantas semelhanças têm nessas duas cidades maravilhosas.



Após explorarmos o artista fomos conhecer o instrumento de trabalho dele: a máquina fotográfica. Levamos um pouco da história dos registros fotográficos e apresentamos para as crianças uma forma de fotografar diferente da de hoje. Eles viram negativos de fotos, máquinas manuais e até máquina fotográfica de lata de leite em pó. Foi um dia de muita curiosidade, um dia intenso para as crianças pesquisadoras. Para dar suporte usamos um livro infantil que falava de outro fotógrafo, o Debret e diversos livros de fotografia. Foi uma experiência singular para as crianças, elas amaram.


 


Depois de conhecerem as diferentes máquinas fotográficas convidamos as crianças para fotografarem. Elas primeiro fotografaram na sala de aula. Fomos sorteando quem fotografava quem, assim as crianças se familiarizavam com a escrita do seu nome. Então fizemos retratos uns dos outros, inspirados nos belíssimos retratos que Alvaro Villela fez. Fotografar retrato e em sala de aula foi a primeira etapa para as crianças fotógrafas. Nesse primeiro momento orientamos como enquadrar, ter firmeza nas mãos e qual botão apertar. Finalizando essa sessão fotográfica as crianças ficaram seguras para a segunda etapa.





 

Na segunda etapa fomos para a rua. Como o espaço escolar fica próximo da casa de todas as crianças foi uma delícia. Passeando eles apresentavam o bairro e mostravam o que achavam belo. O engraçado é que o que era rotineiro e não mais observável se tornou notável. Nessa saída as crianças fotografavam o que achavam interessante. Realizando registros do que gostavam e o que retratava o espaço que moravam.







Com os registros das crianças fizemos uma exposição fotográfica. Além das fotos e das observações do espaço mergulhamos um pouco na história das crianças. Vimos quem era vizinho de quem, quais eram as ruas no entorno da creche, quais pais e mães nasceram no lugar, quais caminhos faziam para ir à creche. Depois de muita observação fizemos uma maquete do principal acesso até a creche. Para construção da maquete trabalhamos muito a psicomotricidade e formas geométricas. Amassamos papel, pintamos e construímos casas. Outra coisa que fizemos foi apresentar fotos antigas do lugar, assim todas as crianças puderam perceber as modificações sofridas ao longo do tempo no espaço. Sensibilizando-as que além de arte, fotografia também é fonte histórica e identidade.