27 de janeiro de 2015

DONA ARANHA: um bom motivo para trazer a lei 10.639 às salas de aulas.

Alguns questionamentos que escuto de colegas docentes é a dificuldade de inserir a lei 10.639 no cotidiano, meio que sem querer. Sem que a questão étnico racial seja o tema principal, mas que perpasse a todo momento pelo ensinado. Bem, não é nenhum bicho de sete cabeças, torna-se fácil a medida que se pratica – e olhe que conheço bastante gente que pensa assim. Como estou atuando na educação infantil compartilho com vocês um planejamento que era para ser simplório e deu pano para manga, pois peguei aquela música que toda criança sabe cantar “Dona Aranha” e inseri um pouco de África.
Comecei pesquisando porque, como o nosso grande Paulo Freire diz, temos que ser professores pesquisadores. Fui buscar sobre aranhas africanas e achei as tarântulas que que habitam as áreas temperadas e tropicais do mundo, portanto África. Assim surgiu o tema da aula: “Tarântula, uma aranha africana” e ao apresentar a temática às crianças foi um furdunço, muita ansiedade para dialogar, pois os conhecimentos sobre o animal borbulhavam dos pequenos... bem, com os saberes organizados partimos para dialogar com os conhecimentos novos. Focamos nas características físicas dos aracnídeos, que tem 8 pernas, 4 de cada lado (matemática gente) e que as tarântulas pertenciam à essa família por terem essas características. Falamos também que essa espécie de aranhas são encontradas em regiões mais quentes e com chuvas, abrimos o mapa e identificamos os locais que elas vivem. Depois vimos muitas fotos de tarântulas encontradas na África o que deu subsídio para construirmos nossa própria aranha com colagem e desenhando as pernas, sempre atentos que são oito, quatro de cada lado, alguns conseguiram outros não, mas tentaram com toda dedicação e isso é o mais importante.

 


No dia seguinte relembrando tudo que vimos, cantamos a música da “Dona Aranha” e seguimos com outra proposta de atividade: apresentar o nome aranha e identificar a primeira letra do nome dela. Relembramos que todo mundo tem uma letrinha que inicia o seu nome. Entregamos uma folha com a letra do nome colada com fita crepe para cada um pintar com giz de cera e depois que toda folha ficou bem pintadinha pedimos que retirassem a fita adesiva... o legal foi cada criança ver a letra inicial do seu nome aparecer no meio da pintura. Após convidamos para brincarem com a chamadinha e o alfabeto móvel, alguns já arriscaram escrever o nome identificando as letras em uma gostosa brincadeira.




Nesse mesmo dia, dando continuidade a temática da aranha contamos uma história de aranha e descobrimos que a alimentação delas é de insetos que ficam presos em suas teias e em seguida construímos nossa teia de aranha. Apresentamos uma gama de cores e em dupla, em comum acordo com o amigo, eles deveriam escolher a cor que usariam. O legal foi ver as discordâncias e acordos e assim fomos para nossa pintura. Esse trabalho foi feito em duas etapas.


No dia seguinte voltamos à África e descobrimos que na África do Sul é um local que possui mais espécies das tarântulas, conhecemos também outro nome dado a essa espécie: caranguejeiras. Depois de localizarmos no mapa e descobrirmos em que lugar ficava o país, falamos um pouco sobre o tráfico desse animal para o Brasil, lógico que adaptando a linguagem e conscientizando as crianças das condições que eles foram transportados, partindo de uma notícia de jornal em que relatava eles sendo enviados pelos correios (http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2014/01/aranhas-exoticas-da-africa-sao-descobertas-nos-correios-de-curitiba.html). Mostramos a distância que se percorreu e depois de muito debate, fomos para a segunda etapa da nossa teia de aranha. 
Com as mãos como carimbo fizemos a aranha, lógico que eles contaram quatro dedos e tiveram que esconder um, depois usamos barbantes para fazer a teia na estrutura pintada no dia anterior, trabalhando a coordenação visiomotora. O carimbo das mãos foram feitos individualmente, enquanto chamávamos um a um o resto da turma brincava de fazer uma escultura de aranha com massinha. 



Para findar a nossa temática, no dia seguinte falamos um pouco sobre o medo da aranha. Explicamos que as tarântula ou caranguejeiras não são venenosas para os humanos, apenas solta uma substância para se proteger que irrita a nossa pele. Após ouvirmos uma lenda africana sobre como todas as história chegaram aqui -  Ananse - convidamos as crianças para confeccionarem uma aranha gigante. Amassamos jornais, muitos e muitos, e separados em grupos tiveram que encher meias calças com os jornais... depois de uma costuradinha aqui e um olhinho ali feito por uma companheira muito habilidosa nossa aranha ficou linda e prontíssima para brincar. Ah!!!! Não deixamos de colocar as crianças para desenhar, praticamente todos os dias, para aprimorarmos o grafismo.






Em que lugar podemos encontrar a lenda africana: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ananse ou nos livros abaixo.



15 de janeiro de 2015

LITERATURA AFRO-BRASILEIRA, NOVAS DICAS PARA INICIAR O ANO.

Quem acompanha o "Encontros Confabulantes" sabe que vira, mexe e remexe posto dicas de literatura afro-brasileira. À medida que vou adquirindo literaturas compartilho com vocês e essa leva de livros que posto não têm nada de novos, eles foram lançados entre os anos de 2009 e 2011, mas três eu não conhecia e os outros dois estavam na minha lista de desejo. Então aqui estão!!!! Espero que o seu encontro com essas dicas desperte desejos e mais desejos... um bom encontro.
Ah!!!! Não deixe de postar suas impressões para que o compartilhar seja dialógico.

Livro: O Menino Que Comia Lagartos
Texto e Ilustração: Mercè Lopez
Editora: SM

O livro é uma boa ferramenta para quem deseja sensibilizar as crianças do quão é importante o encontro com nossa ancestralidade. Ele é todo recheado de encontros, desde o início, quando Tikorô encontra um lagarto sem cor choramingando no mercado de sua cidade até o final quando ajuda o animal a encontrar sua cor. Ao investigar o porquê dele estar branco descobre que sua cor sumia na medida que suas lembranças iam desaparecendo. O menino, grande caçador de lagartos, sensível a dor do animal, abre mão de sua fama e sai em busca do que há de mais precioso para um ser: sua história, suas memórias. Na busca da cor e entre tantos encontros que levaram Tikorô e o lagarto a se perceberem através da ancestralidade, o menino se encontra e o leitor também. 
Vale ler porque é um convite para conhecer sobre as pessoas responsáveis pelo vivedouro das tradições do povo africano, abrindo um leque de discussão para crianças de diferentes idades. Outro ponto que vale o encontro com essa literatura é, principalmente, porque todo mundo deve ter a oportunidade de encontrar-se com outras culturas, especialmente quando esta cultura é nossa também.

Livro: The Goggle-Eyed Goats
Escritor: Stephen Davies
Ilustração: Christopher Corr
Editora: Andersen Press

O livro é todo em inglês e pouco importa para os que ainda não tem afinidade com a língua, pois suas ilustrações, que de tão vivas têm sabor, cumprem papel fundamental no conto que é curto e de fácil entendimento. As Cabras de Olhos Arregalados, em sua livre tradução, conta a história de um homem, casado com três mulheres, com sete filhos e alguns animais, entre eles cinco cabras que causavam dores de cabeça por comerem tudo que viam pela frente... bem se eu contar mais estraga a história que é atraente e engraçada, rica em detalhes e - puxando para o meu olhar de educadora - dá caldo para trabalhar matemática. Tenho certeza que em qualquer mãos que esse livro, que tem sua narrativa passada em um vilarejo de Timbuktu, vai aguçar curiosidades científicas, encantar e arrancar boas risadas.

Livro: Meu Nome é Pomme
Escritora: Kristien Dieltiens
Ilustração: Stefanie De Graef
Editora: SM

Você sabe como o mundo começou? Pomme sabe, foi quando ela nasceu! Esse foi o desafio do livro: contar de forma poética o caminho do início do mundo para essa menina que é fruto de um encontro que tem sabor de maçã verde e o brilho das estrelas. Além da bela história tem um detalhe que não pode passar despercebido: as estampas. Elas são belas, dão texturas às ilustrações e o melhor de tudo é que, para os educadores, é um belo gancho para trazer a lei 10.639 articulando diferentes disciplinas. Para os pais, tios, mães, amigos que só desejam ler para os pequenos vale pela bela história que conta detalhes do antes, durante e depois do nascimento de uma criança com uma sensibilidade única e, dentro da atmosfera de sensações que a leitura oferece, porque não apresentar para esses pequenos qual a estampa e o sabor que marcou a sua vida. 

Livro: A rainha da Bateria
Escritor: Martinho da Vila
Ilustração: Marcelo d'Salete
Editora: Lazuli Editora

Um livro que dá samba!!! Não poderia ser diferente quando o Martinho da Vila está por perto, devagar e bem devagarinho ele conta um pouco do cotidiano de uma escola de samba, sua importância para comunidade, como é feito a escolha da rainha da bateria, sobre história, sobre música e principalmente sobre o desejo de uma menina. O desejo que a menina tem de sambar e estar mais perto da música, e porque não de seu pai que amava música e ensinou a menina Maria Luisa a amar também. Outra questão importante de debater é o preconceito com o samba que no livro é personificado na mãe de Maria Luisa. Um ótimo livro para se ter por perto e para ensinar as crianças a apreciarem o samba, principalmente porque foi inspirado na música do Paulo Brazão "Deixa Maria Sambar". 


Livro: A Menina Transparente
Escritora: Elisa Lucinda
Ilustração: Graça Lima
Editora: Galerinha Record

 "Nasço dentro da pessoa,
E faço ela olhar diferente
Pra tudo que todos olham,
Mas não notam."

É essa menina que a Elisa Lucinda se propõe a apresentar para você, uma menina que resgata a sensibilidade de cada um de nós e que em algum momento você vai se encontrar com ela... E assim, entre versos e adivinhações a autora faz com que os grandões e pequeninos queiram descobrir quem é essa menina leve, bela e envolvente que ela encontrou... a dica fica nos primeiros verso. Divirta-se .

9 de janeiro de 2015

PALHAÇO BENJAMIM: O CIRCO CHEGOU NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Saiba mais:

Circo é um ótimo tema para trabalhar corpo, matemática e etnia, sim etnia e por que não? Para unir isso tudo foi utilizado como ponto de partida o Palhaço Benjamim de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil e considerado um dos melhores. Partindo dessas duas informações iniciarmos a semana sondando quais palhaço as crianças conheciam e se já foram ao circo. Percebemos que a maioria não conhecia um circo de perto, mas que muitas conheciam palhaços. Entre patatis e patatas que surgiram aguçamos a curiosidade de conhecer um palhaço novo e muito, mas muito engraçado e importante. A medida que era apresentada uma imagem do Palhaço Benjamim de Oliveira contávamos-lhes sua história. As crianças ouviram atentas enquanto visualizavam as imagens em preto e branco da “nova” personalidade. Após observar as imagens e um livro sobre o palhaço (O Elogio da Bobagem)  convidamos os alunos para fazer um circo grande, então enfeitamos ele com as cores azuis e vermelhas. Fizemos bolinhas de papel crepom, assim trabalhamos as cores sugeridas e ainda por cima desenvolvemos a coordenação motora fina. Findamos o nosso circo e colocamos nele nosso Palhaço Benjamim de Oliveira.


Após, apresentamos alguns vídeos de circo para os alunos e pedimos para que observassem como trabalhavam com o corpo. Lógico que crianças, que tinham entre três e quatro anos, só queriam saber de rir, e rir muito. Findamos a maratona de vídeos e convidamos todos para mexer o corpo também. Colocamos muitos colchonetes no chão e fizemos tudo que os circenses fizeram no vídeo: cambalhotas, pular, rolar, rastejar e se alongar... foi um dia que usamos muito o corpo, trabalhando a coordenação motora ampla, lateralidade e noção espacial e corporal. Para a realização das atividades utilizamos como fundo o cd "Circense" do Egberto Gismonti.




No dia seguinte, recordamos o trabalhado e para rirmos um pouco selecionei duas cenas do filme “O Palhaço” do Selton Mello, depois fizemos a leitura do livro fotografia do filme. Em seguida convidamos os alunos para construírem o rosto do palhaço Benjamim de origami. A dobradura teve intervenção individual devido a dificuldades de dobrar corretamente, mas a construção do rosto e dos enfeites do palhaço ficou por conta da criatividade de cada um.


No quarto dia, após assistirmos um vídeo que falava da vida do palhaço Benjamim, exploramos a matemática. Convidando os alunos para montar o palhaço Benjamim utilizando formas geométricas. Apresentamos para os alunos o quadrado e relembramos o círculo, vimos suas diferenças. Outros pontos que exploramos nessa atividade foram as cores marrom, vermelho e amarelo e percebemos o corpo e suas partes.

 

Para findar a semana de muita palhaçada mostramos o desenho do Charlie Chaplin e percebemos várias cenas de palhaços. Depois convidamos os alunos para, na rodinha, fazerem suas palhaçadas. Alguns tímidos não quiseram, outros mais soltos fizeram todos rirem e para fechar a semana palhacística fizemos um circo com técnica de estêncio e pincel batedor e para trabalhar o conceito de dentro e fora e colocarmos o palhaço Benjamim no local que lhe é de direito: dentro do circo!


Foi uma semana que deixou marcas, primeiramente porque trouxemos uma personalidade negra que desperta nas crianças a belezura do riso e segundo porque vimos um aluno se descobrir palhaço. Mesmo tudo isso ter ocorrido no início do ano quando, no fim do ano, essa criança foi questionada do que seria quando crescer, sem pestanejar respondeu: PALHAÇO!!!!