Antes de falar do trabalho que foi feito em sala de aula de Educação Infantil (Maternal II) na prefeitura do Rio de Janeiro (Creche Municipal Casa Branca Professor Paulo Freire) tenho que dizer uma coisa que não me canso: o livro “O Mundo no Black Power de Tayó” é um dos mais belos e politizado livro que já li sobre a temática cabelos crespos. Traz de forma positivada os cabelos de uma menininha que é linda e, o que é melhor, acha-se bonita.
A ideia de trabalhar com o livro foi mesmo para romper preconceitos, tanto de alguns educadores como de pais e dos alunos. Tinha um menino, na turma que estou lecionando, que sempre comparava os cabelos das alunas com cabelo de bruxa. Logicamente que o cabelos são crespos.
Como a história é sobre o Black Power,
resolvi trazer o livro para sala de aula e foi muito bem vindo. Comecei a semana contando a história e
explorando as imagens que são bem coloridas. As crianças ficaram bem
atentas, quando fomos fazer a discussão expliquei o que era
o Black Power de forma simples porém real, são crianças que têm
quase 4 anos. A medida que o debate fluía na rodinha fui mostrando
fotos de personalidades e pessoas comuns que usavam Black Power e a
reação foi ótima. Ouvi as crianças falarem da beleza das pessoas
mostradas ou o nome das que identificavam, inclusive o jogadores da
seleção brasileira. As diferentes imagens foram manuseadas pelo
grupo com muita atenção.
Em seguida foi dito para eles que essa forma
especial de pentear os cabelos e outras como as tranças os tererês,
os dreads e os turbantes foram trazidas pelos negros. Lembrei que os
negros vieram para o Brasil da África e que não vieram porque
quiseram, vieram a força para serem escravizados. Lógico que deixei
claro que isso não impediu que eles trouxessem na bagagem do coração
suas culturas. Então apresentei um atlas gigante onde eles puderam
visualizar o continente africano, o país Brasil e o caminho que os
africanos percorreram até chegarem aqui. Também, no debate falamos
que eles vieram de barco porque naquela época não existia avião.
Trabalhando, de forma interdisciplinar, meios de transporte.
Após o manuseio e as curiosidades observadas no
mapa, fomos construir o nosso mapa. Para isso apresentei as cores da
África (preto, vermelho, amarelo e verde). Trabalhamos o nome das
cores e quais eram semelhante com a cores do Brasil (verde, amarelo,
azul e branco), assim trouxemos um pouco da matemática para sala de
aula. Então partimos para a ação, pintamos os nosso mapa gigante
da África e do Brasil e o oceano Atlântico. Lógico que estamos
falando de Educação Infantil e nesse momento tudo é sensação,
então convidei os alunos para pintarem o oceano com os pés e
sentirem a sensação do gelado da tinta, a dificuldade e diferença
de pintar com os esse órgão e não com as mãos. É lógico que o papel pardo rasgou, mas o objetivo foi atingindo: vivenciar diferentes
sensações. Terminando nossa maratona de pinturas e montando nosso
mapa gigante, fomos até nossa produção apreciar e colar barcos fazendo o caminho
da África para o Brasil, para tal atividade entreguei barcos feitos
de origami e numerados de 1 até 9, assim pude inserir mais um pouco de
matemática para que as crianças pudessem identificar os números. A medida que levantava a
placa do número os alunos diziam o nome e vinham colar no mapa.
Outro cartaz que fizemos com os pequenos foi com recorte e colagem de revista. Pedi que os alunos que procurassem imagens de pessoas negras nas revistas. Muito interessante foi os alunos tão pequenos perceberem a dificuldade de encontrar imagens de negros na revista. “-Tia, nessa revista não tem gente negra.” era frase comum na boca das crianças. Enquanto iam para a missão quase impossível – encontrar imagens de negros nas revistas – eu chamava outro grupo para fazer a estamparia na blusa. A auxiliar da turma que leciono, muito talentosa por sinal, fez o molde do desenho que propus e então colocamos as crianças para pintar a blusa com tinta de tecido e pincel batedor. Resultados: no final da semana todos saíram lindos, cada um com o seu Black Power produzidíssimo, com uma linda faixa colorida e a blusa produzida por eles próprios. Um sucesso de auto-estima, um monte de crianças felizes e educadoras com sorriso no rosto vendo seus objetivos atingidos. E, aquele menino que chamava de bruxas as meninas com cabelos crespos, só tecia elogios: "-Tia, como ela está linda! E ela também!". Missão cumprida.